Durante o desenvolvimento intrauterino, o bebê adquire uma postura flexora, dada pelo desenvolvimento do sistema nervoso central e estimulação mecânica quando alcança os limites da parede uterina. Esse tônus fisiológico irá perdurar até cerca de dois meses de idade, onde inicia a mudança para um padrão extensor. Quando ocorre o parto prematuro, o pré-termo perde essa fase de desenvolvimento e o estímulo que favorece essa postura, evoluindo com hipotonia e rotação externa dos membros devido a ação da gravidade, dificultando o ganho de linha média, podendo culminar em atraso do desenvolvimento neuropsicomotor (1).
No ambiente de terapia intensiva o neonato sofre diversos estímulos que podem ser estressantes e dolorosos, como punções e coletas de exames, exposição à luz, ruído e manipulação constante. Posicionar o recém-nascido de maneira organizada, com os membros próximos ao tronco, minimiza o estresse e favorece ganho de peso (2).
Parte essencial para um posicionamento adequado é a confecção de um ninho, através de toalhas ou lençóis enrolados em formato de “U” ou “O”, de modo que isso ofereça restrição e apoio ao corpo do bebê, de maneira contínua, durante sua permanência na unidade, trazendo a sensação de segurança. Em estudo conduzido por COMARU et al, com amostra de 47 bebês com idade gestacional média de 32 semanas, verificou-se que esse posicionamento reduz reações de retraimento e sinais de dor durante a troca de fraldas (3).
Outra maneira de garantir a esse neonato um padrão postural favorável e garantir sensações que remetem ao período gestacional, é o uso de redes de descanso, conhecidas como “redinhas”, dentro de uma estratégia de humanização do setor. A recomendação é que o bebê permaneça dentro da redinha durante um período de tempo, determinado pelo protocolo da instituição. Esse posicionamento estimula o sistema vestibular da criança através da movimentação suave da rede, gerada pela deslocação da criança, fazendo menção a movimentação intrauterina (4).
Em estudo de 2016, com amostra de 30 recém nascidos pré termo, foram avaliados durante sete dias variáveis clínicas e de estresse durante o protocolo de 40 minutos em rede de descanso, comparado ao posicionamento no ninho. Não houveram achados sobre a frequência respiratória e a frequência cardíaca. Verificou-se uma diminuição no score de estresse e desorganização nas crianças que permaneceram na rede (5).
A literatura acerca do uso da redinha em terapia intensiva neonatal é escassa e há necessidade de maiores pesquisas de seus efeitos sobre outras variáveis. Contudo o uso da rede não substitui o uso do ninho, sendo esse essencial na assistência visando o conforto e estimulação do desenvolvimento motor dos neonatos.
Referências
A relação entre posicionamento do prematuro no Método Mãe-Canguru e desenvolvimento neuropsicomotor precoce. Barradas, J., Fonseca, A., Guimarães, CLN., Lima, GMS. J Pediatr (Rio J). 2006;82(6):475-80
Toso Beatriz Rosana Gonçalves de Oliveira, Viera Cláudia Silveira, Valter Jéssica Martins, Delatore Silvana, Barreto Grasiely Mazoti Scalabrin. Validação de protocolo de posicionamento de recém-nascido em Unidade de Terapia Intensiva. Rev. Bras. Enferm. [Internet]. 2015 Dec [cited 2017 July 14] ; 68( 6 ): 1147-1153. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672015000601147&lng=en. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680621i.
Comaru, T., Miura E. Efeitos fisiológicos e comportamentais de uma contenção postural em recém nascidos pré termo. Tese de Mestrado, UFRGS, 2005. Disponível em http://hdl.handle.net/10183/5700.
Bortoli, FCB., Taglietti, M. Efetividade do método Hammock nas características pulmonares e maturidade neuromuscular em recém nascidos internados em unidades de terapias intensivas neonatais: revisão sistemática da literatura. FIEP BULLETIN - Volume 85 - Special Edition - ARTICLE I - 2015 (http://www.fiepbulletin.net)
Costa KSF, Beleza LO, Souza LM, Ribeiro LM. Rede de descanso e ninho: comparação entre efeitos fisiológicos e comportamentais em prematuros. Rev Gaúcha Enferm. 2016;37(esp):e62554. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1983- 1447.2016.esp.62554.
Texto escrito pela Dra. Ana Carolina Almeida
Fisioterapeuta, aluna da pós-graduação em fisioterapia intensiva pediátrica e neonatal - FABIC
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